12 de novembro de 2006

Imagens do XVI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano


















SESSÃO de ENCERRAMENTO

A primeira manifestação do amor na psicanálise foi conseqüente ao fracasso do discurso do mestre. A gravidez imaginária de Anna O. assustou Breuer que desmoronou quando seu saber foi interrogado pelo amor. Isto aconteceu em 1883 quando Freud não recuou frente aos efeitos do amor e assim funda a psicanálise. Este acontecimento pode ser reconhecido como o primeiro embate entre um mestre e um psicanalista e nos ensinou algo que nenhum analista pode desconhecer: o amor que possibilita o laço analítico, é preciso saber manejá-lo para sustentar uma prática que a ética da psicanálise exige[1].

A realização do XVI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, demonstrou que nós não ignoramos o amor!

Para a psicanálise lacaniana os Nomes do amor são 3: Real, Simbólico e Imaginário, ou melhor dizendo, estão aí incluídos a depender da singularidade que cada caso impõe, na clínica ou no Outro social. Foi o que observamos nestes 3 dias de trabalho, considerando os 4 eixos temáticos que deram norte ao nosso Encontro: transferência, parcerias sintomáticas, amores loucos e novos nomes do amor.

Sobre as psicoses destacamos uma forma particular de se amar, a erotomania, mas vimos também outras formas de amarração do dizer de amor que possibilita uma estabilização que deve ser distinguida da suplência erotomaníaca.

Verificamos que na atualidade a burocracia, a ciência e as leis do mercado têm esvaziado o sentido de viver, o que implica em mudanças significativas na forma de amar. O desenvolvimento da tecnologia pode mudar a subjetividade e assim exigir novas formas de amor. Aí identificamos novos nomes para o amor na contemporaneidade: amores nômades, os amores na internet; instantâneos, fugazes, líquidos, efêmeros, instituindo novas nomeações para o amor.

Nesta direção tivemos vários destaques na abordagem do amor: no romance de Machado de Assis, em Nelson Rodrigues, Goethe, Molière e Platão. No cinema verificamos o amor em Frida; e o amor “père-versamente” orientado no filme, O maior amor do mundo, de Cacá Diegues.

Tratamos também do amor como um dos Nomes do Pai, as novas formas do sintoma contemporâneo, onde o gozo das bulimias, anorexias e toxicomanias é ilimitado, não conseguindo se inscrever no campo do Outro.

Observamos ainda a relação/disjunção entre amor e desejo, inclusive injunções sobre o desejo do analista. Verificamos que as escolhas objetais são diferentes no homem e na mulher e, consequentemente, eles amam de formas diferentes.

A falência ou inconsistência do amor dos pais serviu de mote para vários outros trabalhos.

Constatamos que o trabalho de análise, pode produzir um novo amor e que este amor não pode ser avaliado baseado em normas, e sim a partir do gozo privado de cada um. Abordamos também a relação do amor com o direito; o amor do obsessivo com a histérica; a topologia do amor e tivemos, pelo menos um trabalho, que não falava explicitamente sobre o amor na versão eros, mas fazia alusão a anteros.

Enfim, foram 78 apresentações que enfatizaram o amor, principalmente através de casos clínicos – que cada vez mais se consolida como uma vocação da EBP – envolvendo a participação direta de 137 colegas, apresentando, coordenando ou debatendo as diversas atividades que sustentaram o nosso Encontro.ram iversas atividades que sustentsentando trabalhos ou coordenando ou debatendo

Todos estes trabalhos e mais as contribuições dos nossos convidados, Leonardo Gorostiza e Mauricio Tarrab foram enlaçados pelo Seminário, Os nomes do amor, apresentado por Bernardino Horne, que abordou a transferência, na vertente do amor ao saber; o amor como metáfora e como signo da mudança de discurso; o amor em sua função de suplência – amor e sintoma; a foraclusão do amor, o discurso capitalista e os sintomas contemporâneos; além de introduzir um novo estilo de transmissão no âmbito da nossa Escola: o seminário-conversação.

A seriedade com que a EBP tratou o amor, considerando a clínica e a cultura, nos entusiasma e alimenta, sempre, o nosso desejo decidido pela psicanálise e suas conseqüências. Assim, encerramos o XVI EBCF e começamos a nos preparar para o terceiro Encontro Americano, que ocorrerá em Belo Horizonte, de 3 a 5 de agosto de 2007.
Belo Horizonte, 04/11/06
Iordan Gurgel
[1] Silvestre, M. Amanhã, a psicanálise, JZE, p.13 e 14

Nenhum comentário: